FOTO: ARQUIVO OLHAKI
Filó Garcia com sua esposa Elizena Barbosa Soares, em histórico registro fotográfico feito na Fazenda Formoso
A verdadeira história contada por Élio Barbosa Garcia, filho de Filó Garcia, sobre como o Parque Nacional das Emas foi criado
Pelos idos de 1948, o fazendeiro Filogônio Garcia de Freitas recebeu e hospedou em sua propriedade o senhor Torquato Junqueira, médico e grande fazendeiro do café na região de Ribeirão Preto-SP. Após tentativa frustrada de capturar vivo um cervo nos varjões do rio Jacuba, na Fazenda Formoso, Junqueira disse a Filó Garcia, muito desanimado e desapontado, que a natureza ali era uma aliada e protetora natural de inúmeras espécies de animais silvestres, e que ele jamais conseguiria êxito no seu intento, desistindo daquela empreitada.
Essa manifestação despertou no espírito preservacionista de Filó Garcia o desejo de criar na região uma reserva para a preservação da vida silvestre, animal e vegetal, em benefício das gerações futuras. A visão de um horizonte longínquo e inimaginável na época, enquanto outros se esforçavam em tomar posse da terra e requerer para si a área onde hoje é a grande reserva, e que naquele tempo, por direito de posse desde o início do século, já pertencia à família Garcia. Na verdade, o paraíso foi preservado e sonhado por Filó desde o seu retorno à Fazenda Formoso, em 1922, transformando-o num idealista e visionário.
Em 1949, sem a ajuda governamental, com a cooperação de parentes e utilizando peões pagos por ele, e com juntas de bois e seu labor, toras de madeiras atreladas, alisaram o leito daquela estrada carreira e pioneira, também conhecida como “salineira”, e abriram, sobre os sulcos das rodas dos carros de bois, uma outra estrada para o trânsito de veículos, ligando a ponte do rio Corrente à Fazenda Formoso. Foi a primeira estrada de rodagem por aquelas bandas, há muito já conhecida como “Os Sertões dos Garcias”.
Após o período como prefeito, foi membro atuante do Diretório Municipal do antigo PSD, participando de várias eleições. Em 1954, representando o distrito de Serranópolis, foi eleito vereador, como um dos candidatos mais votados, tendo sido o primeiro presidente da Câmara Municipal na referida legislatura. Nesse período, participou de uma reunião de vereadores em Rio Verde-GO, como representante da cidade de Jataí, e aproveitou a oportunidade para apresentar o projeto de criação do Parque Nacional das Emas, ideal que não deixava de martelar sua mente de homem criador e preservador que sempre fora e que ficou mais nítido com o incidente do caçador Torquato Junqueira.
Após insistentes pedidos de Filó Garcia, esse projeto foi apresentado ao Presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira, pelo Senador Dr. Jerônimo Coimbra Bueno. No dia 11 de janeiro de 1961, através do Decreto nº 49.874, o presidente JK criou o Parque Nacional das Emas, o que é hoje a maior e mais importante reserva do bioma Cerrado no mundo.
Filogônio Garcia de Freitas, desde criança cognominado de “Filó Garcia”, foi em toda a sua vida um homem otimista, progressista, empreendedor e de visão, muito além do seu tempo. Não medindo esforços, deu educação e formatura a todos os filhos, deixando-lhes uma herança indestrutível.
Parodiando o grande escritor sertanista, Euclides da Cunha, Filó Garcia foi, antes de tudo, um sertanejo que amava o sertão e todas as suas belezas. Embrenhado nesse sertão desde a mais tenra idade, dedicou a sua vida à construção de uma existência de muito trabalho, suor e lutas, sem jamais esmorecer, sem ódio e sem esquecer as origens e os laços familiares, preservando a memória de seus antepassados que aqui viveram, labutaram e também construíram antes dele.
Devido a complicações de saúde, o seu estado agravou- se e ele faleceu em 16 de fevereiro de 1982, deixando o mundo terreno e material, o convívio harmonioso e fraterno com os seus, a esposa Elizena, 11 filhos e 24 netos.


